Chamas Gêmeas: O Fogo da Separação

A última vez que Amara viu Dante, ele ainda brilhava.

Não era um brilho físico, embora seus olhos tivessem um fulgor dourado quando o sol os tocava. O brilho era algo além, algo que vibrava no ar ao redor dele, que preenchia cada silêncio e cada olhar trocado. Quando suas almas se reconheceram pela primeira vez, naquela vida, foi como um raio rasgando o céu escuro. Não havia dúvidas. Não havia enganos. Eram chamas gêmeas.

Mas chamas gêmeas não foram feitas para conforto, e sim para transformação.

O dia da separação chegou como um vendaval. Palavras não ditas ecoaram como trovões, e o peso de um destino já traçado os esmagava. Dante segurou a mão de Amara pela última vez, e seus dedos queimaram com uma dor que não vinha da pele, mas da alma.

— Isso é necessário — ele sussurrou.

Ela sabia. Sempre soube. Havia aceitado aquele contrato antes mesmo de renascer. O desapego era a lição, e a evolução, a promessa. Mas saber não tornava a dor mais leve. Seu coração se partiu, mas, ao mesmo tempo, algo novo nasceu dentro dela: uma centelha de entendimento, uma fagulha de algo maior que o próprio amor terreno.

Os dias se tornaram anos, e Amara caminhou sozinha. Às vezes, sentia Dante em sonhos, outras vezes, nas coincidências inexplicáveis da vida. Um livro que se abria na página exata. Uma música que sussurrava palavras que só eles conheciam. O universo lhe dizia que ele estava ali, mas que seu caminho era outro.

E então, um dia, quando o silêncio já não doía e as lembranças eram apenas estrelas distantes no céu de sua alma, Amara olhou para si mesma e percebeu: havia se tornado quem sempre deveria ser. O amor não era perda. Era transmutação. A separação não era castigo. Era libertação.

Porque chamas gêmeas não se pertencem. Elas se impulsionam para o infinito.

Conto: Chamas Gêmeas: O Fogo da Separação